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terça-feira, 04 abril 2023 17:00

Vila Algarve: a história contada em ruínas

A Vila Algarve é um edifício situado no bairro da Polana, na avenida Ahmed Sekou Touré, Cidade de Maputo, erguido no século XX, concretamente em 1934. Esta vivenda testemunhou momentos marcantes da história de Moçambique, tendo-se por símbolo de resistência ao colonialismo e local de encarceramento dos opositores do famoso regime de António de Oliveira Salazar.

Degradado, abandonado e em ruínas, mesmo assim o edifício conserva traços de ter sido importante moradia, com a sua opulenta decoração com azulejos algarvios e as paredes que ostentam um tom amarelo acanhado. Hoje, porém, serve de abrigo para moradores de rua e catadores de lixo.

Segundo a nossa fonte, a Vila Algarve foi erguida por ordens de José Santos Rufino, proeminente comerciante e editor fotográfico na então Lourenço Marques, com o objectivo de ser a residência do empresário português. No entanto,  mais tarde nos anos 60, passa a funcionar como sede da PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado Português), ou seja, o quartel general da polícia política do fascismo. O lugar tornou-se palco de inúmeras barbáries contra os oponentes do regime vigente.

A vivenda serviu de prisão, local de tortura e até de execuções. Das personalidades mais famosas que foram ali detidas constam o poeta José Craveirinha, que tem algumas de suas experiências no monumento, descritas em três de suas obras, o pintor Malangatana Valente Ngwenha e o escritor e político Rui Nogar.

Algumas pessoas dizem que, para além de ser atractivo pela arquitectura dos anos passados, o edifício possui um lado sombrio e alegam que já presenciaram experiências paranormais. Relatam ainda que é possível ouvir vozes assombrosas, vultos e espirros de almas dos torturados naquele local na época do regime colonial.

Tem-se planeado em reabilitar a Vila Algarve e, em 2008, a Ordem dos Advogados de Moçambique anunciou um plano de restauro do edifício a fim de o transformar na sua própria sede. O governo, por sua vez, quer transformá-lo em Museu da Resistência Contra o Colonialismo, já que é um dos monumentos que servem de testemunho do passado dolorido que o país enfrentou.

Escrito por Elisa Mucoma para Tsevele

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