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terça-feira, 16 agosto 2022 18:05

Monte Lico: o cruzamento entre a história, cultura e ciência

Monte Lico Monte Lico ©SkySat

Na província de Zambézia, concretamente no distrito de Alto Molócuè, encontra-se o Monte Lico, cientificamente classificado como monte inselbergue. O Monte Lico fica aproximadamente há 1.100 metros (3.600 pés) acima do nível do mar, e distingue-se por possuir paredes de rocha de até 700 metros (2.300 pés). No topo desta montanha encontra-se uma floresta que cobre uma área cerca de 30 hectares (0,12 milhas quadradas). O pesquisador florestal da   Universidade de Oxford, Julian Bayliss, acredita que a floresta nunca tenha sido explorada pelos humanos.

 Esta floresta fornece uma visão única sobre os efeitos das mudanças climáticas nas florestas ao longo do tempo e é protegida por um íngreme círculo de rocha. Desde a “descoberta” da floresta, Lico recebeu atenção mundial que captou a imaginação do público sobre como esses lugares são raros.

Resultante das pesquisas realizadas no local, uma das primeiras espécies achadas é uma borboleta. Os cientistas acreditam que exista um alinhamento de potenciais novas espécies a serem confirmadas nos próximos momentos, entre elas, cobras, rãs, sapos, um anfíbio semelhante a uma serpente chamado ceciliano, musaranho, um roedor com nariz arrebitado, caranguejos e até mesmo plantas com flores. O monte Lico também contém outros mistérios, incluindo potes antigos parcialmente enterrados que os pesquisadores descobriram perto de um riacho. De acordo com a comunidade local, não há relatos de que alguma vez alguém tenha estado no topo da montanha, devido a sua alta altitude de acerca de 1.082 metros.

Os pesquisadores acreditam que esta seja uma das florestas tropicais conhecida com os biomas vivos mais antigos da Terra, e contêm aproximadamente metade das espécies conhecidas. Ela também armazena grandes quantidades de carbono por mais tempo do que qualquer outro ecossistema vivo.

Nesta floresta, encontra-se ainda diferentes espécies de árvores, a maioria as que produzem madeira, como é o caso de Chanfuta, Pau-ferro, Pau-preto, Jambire, Umbila, entre outras pequenas espécies que a população local aproveita para aconstrução dos seus abrigos, assim como lenha.

Para além de se beneficiar dos seus recursos, a populações local também usa o monte Lico para vários fins. Por exemplo, nos momentos de aflição a população tem se abrigado nas extremidades da montanha, para se proteger de grandes tempestades assim como chuvas torrenciais.

Dado o seu status de lugar sagrado, anualmente a comunidade reúne-se numa das extremidades da montanha, trazendo mantimentos e guiados por um líder comunitário e, realiza uma cerimónia tradicional na qual os membros fazem pedidos aos ancestrais, como chuvas, boa produção agrícola, protecção contra enfermidades. No fim da cerimónia, os mantimentos trazidos permanecem no local, como sinal de agradecimento pela produção agrícola e outras bênçãos.

O senhor Gomes, um dos líderes comunitários daquele povoado, explica que muito antes da “descoberta” do monte pelos pesquisadores, a população local frequentava o lugar de forma individual, onde fazia pedidos pessoais, como riqueza e sucesso nos negócios, emprego, boa produção agrícola, casamento, bom relacionamento no lar, cura de determinadas doenças complexas.

Escrito por José Alácio para Tsevele

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