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sexta-feira, 06 agosto 2021 12:18

Molina: da singularidade ao status

Molina Molina Vanila Amadeu

Molina é um alimento consumido um pouco por todo o país, sobretudo na região sul de Moçambique, local onde mais se produz a farinha de mandioca a tapioca ou rhale, um dos seus principais ingredientes. Outros ingredientes incluem o amendoim seco ou castanha de caju torrados, açúcar e sal ao gosto.

A origem do nome molina, segundo conta Isabel Chitolo, natural e residente na província de Inhambane, remonta dos primeiros contactos do povo Bitonga com os portugueses. Isabel conta, relembrando memórias de histórias da sua avó materna sobre o assunto, que inicialmente a molina não tinha nome. Entretanto, numa das ocasiões, quando os locais consumiam a molina, cidadãos de origem portuguesa questionaram o que eles estavam a consumir. Em reposta, estes disseram em gitonga (língua maioritariamente falada na cidade de Inhambane) “mwa lina”, cuja tradução é “não tem nome”. E os portuguese entenderam “molina”. Passou-se assim a se designar molina. Entretanto, deve-se enfatizar que esta é uma versão passível de ser contestada.

Para preparar molina, Isabel conta a receita que comumente usa: 2 copos de amendoim para quatro copos de farinha, meia chávena de açúcar e uma colher de chá de sal ao gosto. Entretanto, acrescenta que “A quantidade de farinha depende das preferências de cada um, há quem goste de molina mais oleosa e há quem goste mais solta”. Aliás, em algumas regiões da província de Inhambane, principalmente Massinga e Vilankulo, a molina mais oleosa, denominada xikaba, é sinónimo de abundância ou boa colheita de amendoim, o ingrediente preferido, razão pela qual preparar molina mais oleosa simboliza um status de bons produtores. Em tempos, a xikaba (molina oleosa) era a principal “arma” de sedução das esposas ou namoradas para os maridos ou noivos mineiros.

Para começar, a Sra. Chitolo explica que que mergulha-se o amendoim na água com um pouco de sal, para amolecer antes de ser torrado. No processo de torragem, o amendoim deve ficar castanho, para que a molina ganhe a coloração castanha, sua cor normal. Este processo pode ser feito de várias maneiras: Pode se optar por simplesmente pôr o amendoim numa panela e levar ao fogo de lenha ou carvão e ir mexendo até torrar; também tem a opção de pôr o amendoim na panela com certa quantidade de areia. Há quem diga que com esta última opção, o amendoim não queima. Entretanto, pode-se também torrar no fogão a gás ou eléctrico, dependendo do que cada um tiver.

Depois de pronto, deixa-se arrefecer para tirar a casca. Enquanto isso, a nossa fonte acrescenta, retira-se os grãos grossos da farinha tapioca, para que se tenha a mais fina, leva-se ao pilão para pilar e torná-la mais fina ainda. “Isso vai facilitar no processo da mistura com o amendoim”. Depois acrescenta-se o amendoim e continua-se a pilar. Quando a mistura ficar homogénea, adiciona-se o açúcar e uma pitada de sal ao seu gosto.

Para aprontar a molina, a Sra. Chitolo diz que quarenta minutos são suficientes, se se estiver a pilar sozinho, mas duas ou mais pessoas podem levar até 25 minutos. Para saber se a mistura já está pronta, esta deverá estar sólida e consistente. “Há quem prefira solta, mas densa é melhor, pois é mais saborosa”, acrescenta Isabel.

Consumo

A molina pode ser consumida de acordo com a preferência de cada um. Há quem prefira acompanhar com chá, ao pequeno almoço, “mas com chá o sabor da molina desaparece pois ambos têm açúcar. Eu prefiro comê-la como um lanche”, admite Isabel. A molina também tem um enorme valor cultural. Para além do que já fora apresentado acima, este é também associado ao momento de recepção de visitantes, por tratar-se de um alimento cujos ingredientes estão quase sempre disponíveis, dependendo da produtividade de cada época.

Molina de castanha de caju

Apesar da maior predominância da molina de amendoim, existe também a molina de castanha de caju, cujo processo de preparação é basicamente similar. Usa-se a castanha de caju já pronta para o consumo, ou seja, depois de todo o processo de descasque e um pouco torrada. O processo subsequente é o mesmo que o da molina de amendoim.

Para o caso da Isabel, a molina de amendoim é mais saborosa pois “é uma combinação perfeita, na minha opinião tem mais gosto”, e acrescenta que a molina de castanha é um pouco mais solta, não fica densa quanto a do amendoim.

Importa explicar que a diferença entre a molina e a manteiga de amendoim está no facto de esta última não conter a farinha tapioca na sua composição.

Escrito por Vanila Amadeu para Tsevele

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