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sexta-feira, 04 junho 2021 13:07

Hihuco ou tihlanga: A tortura em nome da sensualidade

Imagem ilustrativa de tatuagens tradicionais Imagem ilustrativa de tatuagens tradicionais

Hihuco, em língua Chuabo, ou tihlanga em língua Citswa ou Xitswa, ou ainda tinhlanga, em Changana e Ronga, são tatuagens feitas através de métodos tradicionais, geralmente durante a adolescência das raparigas, como forma de prepará-las para o casamento. Esta prática era comum em algumas regiões do país, e acreditava-se que as tatuagens serviam de estímulo no acto sexual.

A prática teve origem distante no tempo, quando as meninas com cerca de 14 anos eram submetidas, obrigatoriamente, a fazer escarificaçōes nas  coxas, na barriga e no peito… a sangue frio. Para o efeito usava-se lâmina ou caco de vidro. 

No entanto, há casos em que as próprias raparigas procuravam este “tratamento de beleza”, por considerarem uma tendência que estava na moda. “Os meus pais nunca permitiram isso, eu e minha irmã tivemos que fazer às escondidas, porque as outras meninas na zona estavam a fazer. Para o efeito, acordámos fazer de forma em momentos alternados, para que quando uma estivesse impossibilitada de fazer trabalhos domésticos devido aos ferimentos, a outra estivesse disponível para cobrir as tarefas”, narra a senhora Adélia Joaquim Nhamutabe, de 72 anos de idade, cujas marcas de tilhanga o tempo apagou.

O Hihuco ou tilhanga não se fazia de uma só vez, todos os meses eram renovadas para aumentar o seu tamanho e a visibilidade. As tatuagens retratavam desenhos de alguns objectos ou mesmo nomes.

Na província da Zambézia, concretamente nos distritos de Gilé, Chinde, Inhassunge, Ile, Namarroi, em algumas localidades do distrito de Pebane, Gurúè, Alto-Molócue e em  algumas zonas do distrito de Namacurra, esta prática foi frequente desde os tempos remotos mas, actualmente, está caindo em desuso. As meninas alegam que não querem passar vergonha quando vão à praia ou em outros espaços públicos.

Avó Manissa, uma anciã de 70 anos de idade e natural do distrito de Pebane, localidade de Nabúri, conta-nos um pouco a sua história. Segundo ela, antigamente acreditava-se que uma mulher sem tatuagem ficava com o seu corpo escorregadio e não dava prazer ao homem no acto sexual. Acreditava-se que, as rugosidades das tatuagens no corpo da mulher, estimulavam o homem.

Ela conta que actualmente, as mães entenderam que não deviam submeter suas filhas a tanta dor, uma vez que as tatuagens são feitas a sangue frio. Por outro lado, compreenderam o perigo que pode advir do uso partilhado de lâminas e outros objectos cortantes, usados para as escarificaçōes.

No tempo dos nossos antepassados, nas zonas onde a prática era frequente, um mulher sem tatuagem era rejeitada e, se existisse um homem que a apreciasse e gostasse dela, uma vez confirmado o noivado, as cunhadas levavam a moça para fazer as tatuagens para agradar o irmão, futuro esposo.

Para descobrir se a moça tinha ou não tatuagens, familiares do esposo (irmã, tia, mãe) levavam a noiva ao rio para lavar a roupa e tomar banho. Caso não tivesse, elas programavam de seguida um dia para fazer o procedimento.

Num artigo sobre as mulheres do distrito de Magude, na província de Maputo, a pesquisadora Americana Heidi Gengenbach descreve que as mulheres têm historicamente usado as tatuagens tanto para refletir sobre a mudança social agrária quanto para afirmar a importância das afiliações femininas em um mundo dominado pelos homens.

 

Escrito por Edmilson Mucuala para Tsevele

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